O desligamento da linha de transmissão Ribeiro Gonçalves/Balsas, de 230 Kv (RGBS[1]LT6-01), de propriedade da Eletronorte, por vandalismo, das 02h33 do dia 14/12/2022 às 10h37, do dia 26/12/2022, demonstra a fragilidade do sistema elétrico da Eletrobras e suas subsidiárias. Foram mais de 56 (cinquenta e seis horas) de indisponibilidade de rede.
As equipes de manutenção da Eletronorte constataram que 4 (quatro) estais da torre nº 171 foram queimados através de fogueiras acesas embaixo dos mesmos, acarretando a queda de 3 (três) torres, localizadas em áreas de agronegócio. Importante ressaltar que foi interrompida uma carga de 30 MW no momento do desligamento, e que o prejuízo só não foi maior para a população, porque a Equatorial remanejou a carga para a linha de interligação Fortaleza dos Nogueiras/Porto Franco, de 138 KV (FNPF-LI5-01).
Até às 16h de ontem, dia 26/12/2022, a linha de transmissão RGBS-LT6-01, de propriedade da Eletronorte, não tinha retornado à sua condição normal de operação, pois aproximadamente 20 MW ainda permaneciam transferidos para a linha de interligação FNPF-LI5-01, de propriedade da Equatorial.
Apesar do grande esforço das equipes de manutenção da transmissão da Eletronorte e da complexidade da atividade, o tempo de reestabelecimento da linha foi bem acima do esperado, devido principalmente ao reduzido número de profissionais na área operacional da empresa.
O Coletivo Nacional dos Eletricitários – CNE tem alertado para os riscos dos desligamentos sem planejamento, mas a direção da Eletrobras e da Eletronorte vêm sistematicamente reduzindo irresponsavelmente o quantitativo de trabalhadores na área operacional da empresa, colocando o sistema elétrico sob sua responsabilidade em risco.
Eletronorte reconhece a vulnerabilidade do sistema para atendimento a Balsas, no Maranhão
No comunicado intitulado “Eletronorte mobiliza equipes para restabelecer torres de linha de transmissão de 230 KV no Maranhão”, de 26/12/2022, a direção da empresa reconhece tacitamente a fragilidade e a vulnerabilidade do seu sistema elétrico, que atende a cidade de Balsas, no Maranhão. Em seu comunicado, a empresa diz textualmente:
- “A queda de três torres provocou o desligamento da Linha de Transmissão (LT) 230 KV Ribeiro GonçalvesBalsas C01, circuito único e radial, que atende a localidade de Balsas (MA), na madrugada do dia 24 de dezembro”.
A empresa reconhece que o atendimento a Balsas é feito através de um circuito único e radial, ou seja, sem alternativa operativa e sem nível de confiabilidade. Ou seja, qualquer desligamento acarretará corte de carga, caso a Distribuidora Equatorial não consiga fazer o remanejamento da carga interrompida, através dos circuitos de sua propriedade.
- “Empenhada em manter o suprimento de energia à população da região de Balsas, tendo em vista a criticidade da configuração sistêmica para atendimento às cargas no setor de 69 kV da Subestação Balsas, a Eletronorte adotou providências junto à Equatorial Energia para o remanejamento das cargas”.
Aqui, novamente a empresa reconhece a fragilidade do seu sistema elétrico para o atendimento à região de Balsas, devido a criticidade da configuração sistêmica, e joga a responsabilidade do remanejamento da carga para a distribuidora. Infelizmente, a região de Balsas é apenas um dos pontos vulneráveis do sistema elétrico da Eletrobras, entre os muitos existentes.
O sistema elétrico da Eletrobras e de suas subsidiárias tem um grande número de fragilidades que colocam em risco o atendimento das cargas elétricas sob suas responsabilidades. Regiões são atendidas de forma radial e sem alternativa operativa; milhares de equipamentos estão superados tecnicamente ou operando com vida útil vencida ou em final de vida útil; subestações estratégicas para o país operam com criticidade e a qualquer momento podem provocar “apagões” de grandes proporções.
Apesar dos grandes problemas existentes no sistema elétrico da Eletrobras, o sistema se mantém em pé, graças ao profissionalismo e qualificação dos excelentes profissionais da empresa, formados ao longo de muitos anos de treinamento e dedicação. Mas, com o argumento de reduzir despesas, para aumentar os lucros da Eletrobras privada, a direção da empresa continua com a sua política irresponsável de redução do seu quadro de profissionais, colocando o sistema elétrico sob sua responsabilidade em risco.
Para a direção da Eletrobras privada, a prioridade é aumentar os seus salários de forma exorbitante, como ocorreu recentemente.
A segurança energética do país não é prioridade para eles. Postergar as demissões para evitar “apagões” tem que ser prioridade. Infelizmente o Brasil está passando por um momento muito conturbado e atos de vandalismo, como o que ocorreu, na linha de transmissão Ribeiro Gonçalves/Balsas, de propriedade da Eletronorte, na madrugada do dia 24/12/2022, podem ocorrer novamente.
Estes atos explicitam o porquê de empresas estratégicas necessitarem ser do Estado, com proteção estratégica para evitar desastres de maiores proporções, como ocorre nos EUA por exemplo, em que a segurança de boa parte do sistema elétrico norte-americano fica a cargo do exército americano.
Devemos considerar que foi noticiado pela imprensa, que o extremista bolsonarista George Washington de Oliveira Sousa, preso pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), no último sábado, tinha a intenção de explodir uma bomba na subestação de energia elétrica de Taguatinga, com o objetivo de provocar o caos no DF.
Acontecimentos como estes demonstram claramente que os responsáveis por setores estratégicos para o país, independentemente de serem privados ou estatais, devem agir com muita cautela para evitar danos irreparáveis para o Brasil. Com certeza, não é prudente, neste momento, demitir trabalhadores e expor, ainda mais, o já vulnerável sistema elétrico da Eletrobras sob o ponto de vista técnico, e agora com ameaça de sabotagem por extremistas bolsonaristas, principalmente em um momento de transição política de um governo para outro.
É fato que o número de profissionais existentes na Eletrobras, já é insuficiente para operar e manter o sistema elétrico devido aos inúmeros problemas técnicos existentes no sistema. Neste momento de turbulência e ameaça de ações de truculência contra a população brasileira e o País, não é sensato reduzir ainda mais o quadro de profissionais da Eletrobras e colocar em risco a segurança energética do Brasil.
Deixar de levar em consideração os últimos acontecimentos e as ameaças que estão ocorrendo no País, é sim, um ato de irresponsabilidade das diretorias da Eletrobras e da Eletronorte, não condizente com os cargos que ocupam, independentemente da Eletrobras ser privada ou estatal.
Senhores diretores e diretoras da Eletrobras e Eletronorte, não sejam coniventes com os atos de vandalismo, sabotagem e com as ameaças sofridas pela democracia em nosso país. Suspendam as demissões previstas para ocorrerem no dia 30 próximo, honrando os cargos que ocupam e pelo bem do nosso país.
A Eletrobras foi privatizada, é verdade, mas os senhores e as senhoras continuam sendo brasileiros e tendo responsabilidade com a segurança energética do país. A União detém 43% do controle acionário, o novo Governo necessita conhecer a realidade que estará herdando.
Abrir mão dessa prerrogativa é um crime de lesa pátria inaceitável e que a história saberá cobrar. Senhores e senhoras diretores da Eletrobras e Eletronorte não entrem para a história do setor elétrico brasileiro como aqueles que preferiram manter demissões de trabalhadores em detrimento da segurança energética do país, abrindo mão de suas responsabilidades para com o Brasil.
NÓS SOMOS BRASILEIROS COM MUITO ORGULHO E COM MUITO AMOR
Reprodução boletim do Coletivo Nacional dos Eletricitários – CNE.