Incertezas, precarização e assédio institucional afetam trabalhadores e trabalhadoras da Eletrobras; o caso de Candiota III

Fernando Frazão/Agência Brasil.

Denúncias dos trabalhadores do sistema Eletrobras vem apontando as conseqüências nefastas da privatização da Empresa.  O CNE já externou à direção da Empresa, ao Congresso Nacional e ao TST sua preocupação com o desmonte das áreas operacionais e administrativas, a partir das demissões de trabalhadores efetivadas desde o processo de lesa-pátria que foi a entrega das ações da Eletrobras aos investidores privados.

Assim como as demais áreas da Eletrobras e suas subsidiárias, de norte a sul, a Usina de Candiota está passando por um período onde o clima institucional está péssimo.  Esse período nebuloso começou quando a gestão da Eletrobrás anunciou seu interesse de fazer a descarbonização no grupo, ou seja, zero emissão de carbono.

Como consequência, as possibilidades de “Fechamento” e/ou “Venda” tem assombrado os trabalhadores da Usina Termoelétrica Candiota III – Fase C, bem como os das demais usinas térmicas pertencentes ao grupo Eletrobras

No caso específico de Usina de Candiota, trabalhadores vivem em estado de incerteza, insegurança, além do assédio moral institucional que beira ao  terrorismo, agentes que contribuem sobremaneira para  acidentes ou incidentes.

Em maio, um trabalhador de empresa terceirizada teve um dedo amputado. A pressão para realização do trabalho, por parte da chefia, fez com que se usasse equipamento não indicado para a situação (empilhadeira). Mais grave ainda, quem a conduzia não tinha licença para dirigir empilhadeira, mas recebeu ordens, e ouviu a frase: “somos privada agora, tem que fazer, se não fizer tem penalização”. O resultado dessas ordens foi o acidente que afastou um trabalhador por mais de sete meses.

Também se pode registrar a perda de um trabalhador para a depressão, agravada pela condição de insegurança sobre a continuidade ou não das atividades da empresa. A ampliação da pressão sobre os trabalhadores, ameaçados pela privatização, com a possibilidade de venda ou fechamento da operação, levou o companheiro ao suicídio, deixando esposa e filho ainda bebê. 

Por último, a explosão de um caminhão de cal no dia 30/07, que ocasionou ferimentos leves em trabalhador terceirizado. Estes caminhões trazem cal do Uruguai para a operação da usina. A cal é usada nos dessulfurizadores para fazer mitigação da emissão CO2. Há indícios que o veículo sofreu pressão muito acima do normal, e possível problema em suas válvulas de escape originou o acidente. Provavelmente, a empresa vá alegar falha humana, mas há evidências de problemas de manutenção, considerando que a compra de peças e a manutenção dos equipamentos vem sendo descontinuada, para contenção de gastos.

Pesquisa do Dieese aponta que, enquanto o resto do mundo possui 87% de sua matriz energética fóssil, o Brasil tem apenas 6% de sua geração de energia com matriz não renovável. Questiona-se: Qual a necessidade de descarbonizar a Eletrobras desta forma tão apressada, sem nenhuma interlocução nem com os trabalhadores nem com as comunidades que serão afetadas? Tantos acidentes, abalo psicológico, assédio moral, terrorismo, para alcançar emissão zero de carbono, valem a pena?

A geração de energia da Usina Termoelétrica de Candiota FASE C é importante para a Segurança Energética do país, porque garante energia firme e constante ao SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL (SIN), favorecendo a modicidade tarifária.

Temos a compreensão que é importante privilegiar formas sustentáveis de geração de energia, visando a evitar impactos para gerações futuras. No entanto, somos defensores de uma Transição Energética JUSTA e INCLUSIVA, com o tripé da sustentabilidade desenvolvendo juntos os aspectos Social, Ambiental e Econômico.

É fundamental, neste momento, manter a dignidade dos trabalhadores e comunidade, as pessoas precisam trabalhar com saúde mental preservada, sem incertezas, sem riscos, sem “fantasmas” assombrando, e isto passa pela cessação das demissões e a manutenção da CGTEletrosul Candiota III no Grupo Eletrobrás.

FISCALIZAÇÃO DO MINISTÉRIO DO TRABALHO NA CGTEletrosul – Candiota III

Com as mudanças ocorridas no Brasil, após o dia primeiro de janeiro, se observa a retomada de um olhar mais atento aos trabalhadores. O Governo Federal, através do MTE, passou a atuar de forma mais intensiva e fiscalizadora, no que se refere às necessidades dos trabalhadores e às suas condições de segurança e saúde no ambiente de trabalho.

CNE, Intersul e Senergisul, conjuntamente, informam aos trabalhadores da Usina Termoelétrica de Candiota III, Fase C, CGTEletrosul que foram comunicados da realização da fiscalização na área da Fase C, feita pelos Auditores Fiscais do Trabalho (AFT) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) no dia 07/08.

Os fiscais, a partir de sua chegada à Usina, solicitaram presença de um dirigente sindical de cada entidade, ou um que representasse às três, o que foi atendido por dirigente sindical indicada pelo Senergisul.

Foi destaque recentemente na mídia o acidente ocorrido no dia 30 de julho na planta da Fase C, com a explosão de um caminhão de cal, que somente não teve conseqüências mais graves por ter ocorrido num final de semana, com menor fluxo de pessoas, resultando em apenas um trabalhador terceirizado, com ferimentos leves.

Neste caso, o Ministério do Trabalho e Emprego, através da Superintendência do Trabalho, na região do Rio Grande do Sul, junto com o Sindicato dos Eletricitários, Empresa e CIPA trabalham conjuntamente na apuração das causas deste acidente para melhorar as condições de trabalho e segurança naquele local.

Os Auditores Fiscais do Trabalho registraram diversas situações e apontaram uma série de irregularidades relacionadas a questões de segurança do trabalho, sobre as quais foi dado um prazo para que sejam regularizadas pela empresa. .

Conforme consta “foi caracterizada a grave condição na execução da atividade de inspeção e operação na “tomada d’água”, pela realização de trabalho individual, descumprindo a NR10, pois operador realiza a tarefa sozinho.

Também foi determinada a adequação do posto de trabalho de vigias das bacias de sedimentação.   A empresa foi notificada, ainda, a apresentar outros documentos sobre a gestão de segurança e saúde. A fiscalização não se encerra na inspeção realizada na segunda-feira, novas medidas podendo ser determinadas.

Os sindicatos continuarão atentos e acompanhando todo este processo para que realmente as medidas protetivas que preveem condições de trabalho digno para os trabalhadores sejam atendidas.

Reforçamos a orientação a cada trabalhador, direto ou terceirizado, que estiver em condições precárias de trabalho ou pressionado a trabalhar nesta condição, para que comuniquem imediatamente aos sindicatos.

Dignidade no trabalho e segurança na operação do Setor Elétrico é nossa bandeira! 

SEGURANÇA NO TRABALHO É UM DIREITO DOS TRABALHADORES E UM DEVER DAS EMPRESAS. LUTAMOS POR AMBIENTES DE TRABALHO SAUDÁVEIS E SEGUROS!

Reprodução Boletim CNE.

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