Há alguns dias, a direção da Eletrobras privada disse em comunicado ao mercado, que iniciou estudos para incorporação da subsidiária sua maior subsidiária Furnas. Segundo eles, a iniciativa, faz parte de “plano para simplificar estrutura societária e governança, em meio aos trabalhos de reestruturação da empresa após a privatização”.
Em resumo é o apocalipse da história que Furnas construiu. É o fim da memória de um dos maiores casos de sucesso da história do Brasil. Os privatistas sanguessugas de dividendos que tomaram a Eletrobras de assalto, querem incorporar Furnas, cancelar o CNPJ da empresa e todas as referências que construíram a memória da nossa joia da coroa.
As informações levantadas pelos sindicatos dão conta de que os estudos estão avançados. Querem finalizar a absorção de Furnas até o final do ano e estimam a incorporação das concessões das usinas e linhas de transmissão de Furnas pela Eletrobras em 14 semanas.
Para os que não sabem, Furnas foi criada para sanar a crise energética que ameaçava, em meados da década de 50, o abastecimento dos principais centros socioeconômicos do país – São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte – por um decreto de 28/02/1957 do visionário presidente Juscelino Kubitschek, FURNAS já nasceu superando desafios: construir e operar, no Rio Grande (MG), a primeira hidrelétrica de grande porte do Brasil – a Usina de Furnas, com 1.216 MW.
Por outro lado, a população local sofreu muito. 34 municípios mineiros viam suas terras mais férteis, as de várzeas, serem inundadas pelas águas de Furnas. Aquilo era um absurdo para o povo mineiro. Perder todo legado de vida, apenas para gerar energia. Desapropriações. Gado e plantações perdidos. Terras em desvalorização ascendente… Famílias inteiras abandonando suas terras, quando não, suas cidades natais, onde seus pais, avós, ou bisavós, haviam fincado suas raízes. Alguns casos de suicídios, outros levados à loucura. O povo de 34 municípios, com muita razão, se voltou de costas para o lago.
Mas com o passar dos anos, a relação mudou, hoje o Lago de Furnas é um orgulho para os mineiros não só pela geração de energia elétrica, mas também pelos usos múltiplos da água com atividades de turismo, agricultura, navegação, piscicultura, irrigação, entre outras.
Mas esses usos múltiplos das águas estão ameaçados. As grandes chuvas trouxeram uma recuperação do nível do lago e foi retomada a tão desejada Cota 762. Mas sabemos que não vai chover para sempre. O fenômeno climático natural El Niño de aquecimento deve se desenvolver nos próximos meses e isso acarreta escassez de chuvas e esvaziamento das áreas de grandes reservatórios no Brasil. Com as notícias recentes de crescimento do PIB brasileiro, aumenta a demanda por energia elétrica na economia e dispositivos da privatização da Eletrobras que modificam a Usina de Furnas para Produtor Independente de Energia favorecem ao despacho desenfreado da hidrelétrica. Agora, com o fim de Furnas em curso pela direção sanguessuga da Eletrobras, a cota 762 pode estar com os dias contados e os contratos de royalties da água dos municípios podem inclusive ser reavaliados.
Além de um grande prejuízo para o povo mineiro, para a memória afetiva de Juscelino Kubitschek, John Cotrim e Itamar Franco, para as associações de fomento ALAGO, AMOG, AMEG e AMUSUH, o fim de Furnas é um golpe no Brasil! No orgulho nacional!
Furnas é a maior das subsidiárias da Eletrobras, com presença em 15 estados e no Distrito Federal, e capacidade instalada de geração de mais de 18 GW. Furnas gera energia a partir de fontes hidrelétricas, gás natural, eólica e solar. Seu sistema inclui 22 hidrelétricas, duas termelétricas, um complexo com cinco parques eólicos e 35.201 km de linhas de transmissão e 72 subestações. Furnas foi a primeira empresa a produzir 1,5t de hidrogênio verde no Brasil. Marco é resultante dos projetos de P&D em curso há dois anos na hidrelétrica de Itumbiara (MG/GO). Furnas sempre foi vanguarda, esteve à frente do seu tempo, a gigante do setor elétrico brasileiro.
O fim de Furnas representa um revisionismo histórico de Minas e do Brasil, além de ser franca ameaça para o povo mineiro, os empregados de Furnas, a CAEFE, a ASEF, a Fundação Real Grandeza e a Após-Furnas.
Hoje todo o Brasil sabe quem comanda a Eletrobras. Foram os mesmos que quebraram as Lojas Americanas, o trio da 3G Lemann, Telles e Sicupira. Esses parasitas só querem saber de dinheiro e de encher os bolsos de dividendos. Estão correndo contra o tempo porque sabem que o governo pode recuperar os 43% da Eletrobras a qualquer momento. Vamos resistir!
O Coletivo Nacional dos Eletricitários vai resistir firmemente a mais essa tentativa de golpe dos gafanhotos que tomaram a Eletrobras de assalto! Já iniciamos contatos com parlamentares, movimentos populares, prefeitos, advogados especialistas em regulação e direito societário e empresarial. Tomaremos as ruas e as redes por Furnas, por Minas e pelo Brasil! Só a luta salva!
Reprodução boletim do Coletivo Nacional dos Eletricitários.