Não era preciso ter bola de cristal para saber que a Eletrobras apresentaria mais um resultado expressivo, agora relativo ao ano de 2020. Divulgado na noite da última sexta-feira, 15 de março, o balanço da companhia mostra um lucro líquido de R$ 6,4 bilhões no exercício.
Apesar do número positivo, mesmo num ano de pandemia, com um nível de endividamento mínimo, apresentando resultados operacionais de excelência — e socorrendo transmissora privada que apagou o Amapá —, não seremos surpreendidos quando nossos líderes disserem:
“A Eletrobras não tem condições de investir.”
“Só a ‘Capitalização’ (ou melhor, privatização) salva a Eletrobras.”
São os mesmos chavões e frases de efeito exaustivamente repetidos pela falta de argumentos.
Vejamos mais alguns números:
- Lucro Líquido de R$ 6,4 bilhões num ano de pandemia, onde a economia brasileira teve tombo de 4,1% (o maior já registrado), perfazendo R$ 30 bilhões de lucro nos últimos três anos;
- Quase R$ 40 bilhões de RBSE a serem recebidos entre esse ano e 2028. Ou seja, mais do que o governo pretende apurar com a privatização da empresa;
- Caixa de R$ 14,3 bilhões. Está longe de ser uma empresa quebrada;
- Queda de 6% nas despesas com PMSO e 19% só nas despesas com pessoal. Cai por terra o velho argumento de que a força de trabalho da empresa é um problema. Ao contrário, fazemos cada vez mais e melhor com menos;
- Relação Dívida Líquida/EBITDA de 1,5. Trata-se de uma empresa muito pouco endividada, com plena capacidade de se alavancar para um robusto programa de investimentos que ajude o Brasil a sair da crise;
- A nota negativa fica, mais uma vez, por conta dos investimentos. Os R$ 3,1 bilhões investidos em 2020 estão 6,4% abaixo do valor investido em 2019 e abaixo mesmo do valor previsto no PDNG da empresa, que era de R$ 5,3 bilhões. Levando em conta que a Eletrobras pagou cerca de R$ 2,5 bilhões em dividendos em 2020 e que a empresa é lucrativa e pouco endividada, fica claro que a opção do Governo é gerar renda para seus acionistas e não desenvolvimento para o país.
A Eletrobras tem mais de 60 anos produzindo e transmitindo energia para um Brasil continental, com qualidade e segurança. São décadas investindo em programas sociais, implementando programas de universalização do acesso à eletricidade, fomentando a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico. Diante dessa história de sucesso, causa tristeza ver parte da classe política agir de forma antinacionalista e entreguista, interesseira e alheia à vontade da maioria da população.
Também não será preciso ser vidente para prever os efeitos da anunciada privatização: precarização, tarifaço, apagão, insegurança e risco de rompimento de barragens, fim dos repasses sociais, redução dos dividendos à União, monopólio privado de 40% do setor elétrico.
Como foi bem mencionado pelo ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia, “a Privatização da Eletrobras está sob suspeição por beneficiar sócio privado” (LIDE-2020).
Faz sentido; a recompensa deve ser grande diante da curiosa insistência de alguns.
Reprodução do boletim da AESEL.