A Eletrobras anunciou ao mercado que o balanço de 2021 será publicado nesta sexta (18/03). Faltou combinar com os russos? A verdade é que até o presente momento, quarta (16/03), 10 da manhã, nenhum Conselheiro de Administração da Eletrobras ou de suas subsidiárias recebeu as demonstrações financeiras de 2021 para aprovar.
É no mínimo contraditório a Eletrobras se valer de prêmios por gestão de Compliance e apoio às práticas ESG (Environmental, Social and Corporate Governance). Será que submeter os conselheiros a uma aprovação açodada de um relatório tão importante como as demonstrações financeiras anuais de uma companhia aberta em bolsa atende às melhores práticas de governança corporativa? Será que se adéquam ao IBGC, IFRS Foundation, IIRC e SASB?
Hipocrisia! Adotam o discurso de melhores práticas de governança, mas na prática fecham as demonstrações financeiras e contábeis cheias de remendos e escândalos, na base do custe o que custar. Será tudo denunciado!
Por falar em açodamento, a publicidade do escândalo da arbitragem de Santo Antônio Energia provocou uma autêntica “briga de cachorro grande” entre duas das “Big Four” de auditoria. A Price (PwC) que faz a auditoria dos resultados financeiros da Eletrobras e subsidiárias, partiu pra cima da Deloitte que é auditora externa da Santo Antônio Energia.
Para lembrar, Santo Antônio Energia é uma Sociedade de Propósito Específico (espécie de Parceria Público Privada) onde Furnas, subsidiária da Eletrobras detém mais de 43% do capital.
Recentemente, foi consolidado um resultado do procedimento arbitral CCI 21.511/ASM onde a direção de Santo Antônio foi derrotada e os valores chegam a R$ 18 bilhões e pelas regras contábeis de eventos subsequentes pelo menos os juros da dívida estipulada na arbitragem que giram em torno de R$ 1,8 bi deveriam ser provisionados no balanço de Santo Antônio.
A Deloitte, auditora independente de Santo Antônio, queria refazer o balanço da SPE e incluir a provisão de R$ 1,8 bi para honrar a fidedignidade das informações contábeis e financeiras. A novidade ruim é que a auditoria perdeu queda de braços com os sócios de Santo Antônio. E essas contas são tão polêmicas que foram reprovadas por dois conselheiros, inclusive pela vice-presidente do Conselho de Santo Antonio.
Ocorre que agora que a Deloitte acatou não registrar os bilionários serviços da dívida da arbitragem no balanço de Santo Antônio Energia e compactuou com a fraude contábil, a PwC, auditora independente da Eletrobras e de Furnas, abriu uma guerra entre as auditorias.
Isso porque a PwC ficou em uma autêntica sinuca de bico. Se registrar nos balanços de Furnas e Eletrobras as informações da arbitragem de Santo Antônio, fica descasada com o balanço da SPE e teríamos informações contraditórias dentro da CVM e até no cruzamento de informações SEC.
Por outro lado, se a PwC optar por seguir o que a Deloitte fez, endossa o crime contábil de omitir valores relevantes da arbitragem de Santo Antônio.
Esse “dilema” seria evitado se todos optassem por fazer o certo que seria refazer o balanço de Santo Antônio e refletir as atualizações nos balanços de Furnas e da Eletrobras. Mas a proeminência de um suposto cronograma de privatização vai deixando rastros e mais rastros.
A PwC tem feito reuniões beligerantes com a Deloitte, reforçando o quanto é irresponsável a omissão de não refazer o balanço de Santo Antônio. Não bastasse esse problemão, a PwC se depara com a omissão do impairment de Belo Monte (auditada pela Ernst & Young) que foi registrado pela sócia NeoEnergia (auditada pela KPMG). Podemos ter uma guerra generalizada das “Big Four” nos escândalos do balanço da privatização da Eletrobras.
E como diria Galvão Bueno: “vai se criando um clima terrível”. Clima que poderia ser evitado fazendo as coisas com responsabilidade. Não se pode agradar a dois deuses. Ou você está do lado certo ou não está. O CNE segue atento e na luta e todos esses casos estão sendo reportados ao National Office at PwC (EUA). Nossa luta é por justiça e soberania!
Reprodução do boletim do Coletivo Nacional dos Eletricitários.