O Brasil está ainda no início do período seco nas regiões Sudeste e Centro-Oeste (que concentram 70% da capacidade de armazenamento do país), e é muito pouco provável que haja chuvas suficientes para recuperar os reservatórios até o início previsto do período úmido, em novembro, afirma nota da Associação dos Engenheiros e Técnicos do Sistema Eletrobras (Aesel).
Caso não haja chuvas bem acima da média histórica entre o fim de 2021 e o começo de 2022, há uma tendência forte de que a crise energética do próximo ano seja bem mais grave que neste, completa a Aesel, que afirma: “A verdade é uma só: independentemente de não ter sido anunciado claramente pelo ministro Bento Albuquerque [de Minas e Energia], ou estar expresso na MP, o racionamento já começou.”
Os engenheiros e técnicos da Eletrobras apontam alguns dos fatores que levam ao risco de apagão:
– Condições operacionais das usinas: o Operador Nacional do Sistema (NT-ONS DGL 0059/2021) prevê que, mesmo tomando todas as medidas excepcionais por ele propostas sobre o uso das águas dos reservatórios e com o acionamento de todo o parque de geração termelétrica (20 GW), o país poderia chegar ao final de novembro de 2021 com uma sobra de potência de apenas 3,3 GW. Isso representaria uma folga de menos de 4% para o sistema, com risco real de uma eventual falha localizada levar a um blackout generalizado;
– Crescimento econômico: o crescimento econômico no Brasil leva a um aumento no consumo de energia elétrica, geralmente, em um fator de 1 para 1,5. Se a economia (PIB) crescer 5% esse ano, como previsto, o consumo aumentaria 7,5%. Em 2020, apesar de a economia ter desabado 4,1%, o consumo de energia recuou apenas 1%;
– Crise hídrica: “Essa é a variável não controlada da crise. Entretanto, não é verdade que toda crise hídrica leve a uma crise energética. Entre 2013 e 2016 houve também severa crise hídrica que, porém, não redundou em crise energética a ponto de ser necessária a restrição do consumo”;
– Falta de investimentos: “Em 1995, o Governo FHC incluiu a Eletrobras no Plano Nacional de Desestatização. Dessa forma a maior empresa de energia elétrica do país ficou proibida de realizar novas inversões, e os esperados investimentos da iniciativa privada não vieram. O resultado é que bastou uma seca um pouco mais severa para que o sistema entrasse em colapso. Da mesma forma, em 2016, com o ex-presidente Temer e a proposta de privatizar a Eletrobras, a média de investimentos caiu de mais de R$ 10 bilhões para pouco mais de R$ 3 bilhões anuais.”
A Aesel acrescenta que erros na operação levaram à piora do quadro. “Por falta de planejamento estratégico, o Governo Bolsonaro atua de forma imprudente; 2020 foi o ano em que começou a pandemia e, de fato, entre abril e junho houve redução brusca no consumo de energia no país. Talvez para não onerar os consumidores, o ONS resolveu despachar muito mais energia hidrelétrica do que o de costume. Porém, no segundo semestre o consumo não só teve recuperação, como também cresceu em relação ao mesmo período do ano de 2019. No ano passado já estava claro que haveria escassez de água, mesmo assim, o ONS continuou esvaziando os reservatórios. O despacho das hidrelétricas continuou máximo, mesmo em meio ao período úmido bem abaixo da média, entre o fim do ano passado e o começo deste, despachando no máximo, até fevereiro. Dessa forma, os reservatórios das regiões Sudeste / Centro-Oeste começaram o período seco, em junho, com 30% de sua capacidade, nível insuficiente para garantir segurança energética para o segundo semestre.”
Via Monitor Mercantil