Recompra de ações da Eletrobras é uma operação que beira a picaretagem

O programa aprovado pela Eletrobras que permite à empresa recomprar ações na bolsa de valores brasileira (B3) está sendo considerado um embuste. Isso porque põe abaixo a principal argumentação a favor da privatização: capitalizar para realizar novos investimentos.

Não é o que está acontecendo. “Essa operação será feita com o caixa da empresa. Dinheiro deixado pelo povo brasileiro que vai engordar a conta dos acionistas e dos atuais diretores”, acusa ao Portal Vermelho uma fonte que preferiu não se identificar.

Há seis meses, desde a privatização, não houve sequer um investimento feito pela Eletrobras. Nesse período, a empresa não ganhou nada após dois leilões de transmissão e um de geração. As ações também estavam em queda, começaram com o preço de R$ 45 e caíram para R$ 40.

A perspectiva da empresa não era boa por estar “com muita energia descontratada”, isto é, excesso de energia com a demanda baixa.

Por outro lado, os diretores se assustaram com a decisão do presidente Lula de revogar o processo de privatização de oito estatais, entre as quais Petrobras e Correios, iniciados durante o desgoverno Bolsonaro. Apesar da privatização, o governo tem hoje 43% das ações da Eletrobras.

“Essa possibilidade de o governo retomar a Eletrobras também pesa. Os caras estão preocupados com isso. Então o objetivo dessa recompra é manter as ações em tesouraria. A própria empresa vai ter ações dela mesma. O que isso significa? Significa que você vai poder especular com as ações no mercado”, contou a fonte.

Diz ainda que a empresa foi privatizada para operar no sistema financeiro. “Daqui pra frente, aliás desde a privatização, e a persistir essa situação, é isso que vai acontecer com a empresa. Você não vai ouvir falar de obras, a empresa vai virar um grande agente financeiro”, previu.

Em suma, a operação é uma forma de remunerar os acionistas, porque eles vão poder vender as ações agora com preços em alta. No caso dos diretores, além dos altos salários, eles também são remunerados com ações.

Privatização

No relatório final da transição de governo, foi levantada uma preocupação em relação à mitigação das consequências negativas da privatização da Eletrobras sobre as tarifas do setor elétrico.

Isso em função do processo de “descotização” e da concentração de poder de mercado em uma empresa privada. “Causam, igualmente, preocupação e impacto negativo sobre as tarifas as emendas inseridas na lei de privatização da Eletrobras”, diz o um trecho do documento.

Destaca-se também que se tornou obrigatória a contratação de termelétricas caras e desnecessárias, o que criou uma reserva de mercado para as pequenas centrais hidroelétricas e levou à renovação de contratos de usinas antigas, por meio do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa).

“Também inquieta e deve ser foco de atenção a perda por parte da União da capacidade de influenciar os rumos da Eletrobras, apesar de continuar a ser o maior acionista da empresa”, diz o documento.

Reprodução Vermelho.

Siga nas redes